Imergindo nas profundezas do universo gramatical,
sentimo-nos surpreendidos diante da complexidade que ele nos reserva, sem
dúvida, mas também encantados diante das grandes surpresas que ele nos
apresenta, sobretudo em se tratando da enorme flexibilidade de que se compõem
os fatos que norteiam a língua como um todo.
Tal flexibilidade, aqui retratada de forma
específica, diz respeito ao fato de que conceitos, características,
tornam-se amplamente passíveis de mudanças em função de um só aspecto:
o contexto em que se dá uma determinada circunstância comunicativa.
Aqui a ênfase será dada ás mudanças que se operaram no campo
gramatical, mas elas também podem se manifestar no campo sintático, cuja
recorrência se torna fato indiscutível.
Nesse sentido, pautemo-nos por discorrer acerca
de tais mudanças atribuídas a uma mesma palavra, haja vista que ela pode
assumir classes gramaticais distintas, assim como ocorre com alguns exemplos
dos quais já temos conhecimentos, retratados pelas palavras “que”, “se” e
“como”. Assim, diante da inviabilidade de representá-las em sua totalidade,
atenhamo-nos somente a algumas, assim representadas.
Observemos algumas situações em que discursos
como estes apresentados ilustram bem o que nos propomos a discutir:
# A
Beatriz é a garota de quem você gosta. Daqui a
algum tempo, caso esse sentimento se torne cada vez mais intenso, perguntarei a
você: Você a ama?
No enunciado nos deparamos com distintas posições
ocupadas pela palavra “a”, sendo que na primeira e na segunda ocorrência, como
ela acompanha um substantivo próprio, bem como um substantivo comum, afirmamos
tratar-se de um artigo.
No último caso, constatamos que a posição agora se difere das outras já
mencionadas, haja vista que pelo fato de atuar como complemento do verbo, em
termos sintáticos, ela se classifica como
pronome pessoal do caso oblíquo.
# É bem possível que você tenha tido um dia bastante tenso,
mas as considerações destinadas a você foram bastantes para se
sentir um pouco mais aliviado. Assim, no dia seguinte, com certeza, terá ânimo
para enfrentar bastantes desafios.
Ora, deparamo-nos com bastantes classificações
atribuídas à palavra bastante, uma vez que no primeiro caso a classificação se
refere a um advérbio,
invariável; portanto, no segundo, a um
adjetivo, e no terceiro, a
um pronome indefinido.
# Logo
que tiver a oportunidade de estudar, não perca tempo. Logo, agindo assim, estará lutando em
prol de um futuro melhor.
Sem dúvida matou a charada logo, pois, em se
tratando do primeiro caso, afirmamos estar diante de um advérbio de tempo e,
prosseguindo com as considerações, deparamo-nos com uma conjunção coordenativa conclusiva.
# Segundo
o que me disseram, no segundo
dia de trabalho ela gastou menos de um segundo
para resolver um impasse que até então perdurava na empresa.
Temos a certeza de que alguns segundos serão
suficientes para que você atribua à palavra “segundo” as classificações
corretas, uma vez demarcadas, respectivamente, por uma conjunção subordinativa conformativa, por
um numeral ordinal, e, finalizando,
por um substantivo.