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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Figuras de palavras

Também chamadas de figuras de semântica, são formas de expressar o pensamento ou os sentimentos de modo vivo, enérgico, vibrante, capaz de impressionar o ouvinte ou leitor, escapando ao uso corriqueiro que se faz das palavras e da língua.

1. Antonomásia: substituição de um nome próprio por um atributo ou qualidade que lhe diz respeito - e vice-versa:
Já quiseram os Deuses que tivesse
O filho de Filipe, nesta parte,
Tanto poder que tudo submetesse
Debaixo do seu jugo o fero Marte.
(Camões)
[No caso, "filho de Filipe" refere-se a Alexandre Magno.]

Observação: é também por antonomásia que a tradição literária e histórica concede títulos específicos a alguns homens célebres: Águia de Haia (Rui Barbosa); Boca do Inferno (Gregório de Matos); Poeta das Estrelas (Olavo Bilac) etc.

2. Metonímia: emprego de um termo por outro, através de uma relação de dependência, que pode ser da causa pelo efeito, da parte pelo todo, do conteúdo pelo continente, da obra pelo autor, da causa pela consequência etc., e vice-versa:
a) o efeito pela causa:
As cãs inspiram respeito (em vez de a velhice).
b) o autor pela obra:
Ler Machado de Assis.
c) o continente pelo conteúdo:
Tomar uma garrafa (de vinho).
d) a parte pelo todo:
Completou quinze primaveras (por anos).
e) o singular pelo plural:
A mulher tem sempre rara intuição (por as mulheres).
f) a característica pelo produto:
"(Um homem) trazia um ferro na mão gotejando vermelho, uma faca de lâmina estreita ou um punhal" (Raul Pompeia). [No caso, vermelho = sangue.]

3. Sinédoque: na prática, confunde-se com a metonímia. Tal semelhança, inclusive, é objeto de discussão entre os gramáticos. Seria uma metonímia baseada na relação quantitativa entre o significado original da palavra usada e o conteúdo ou referente imaginado:
Braços para a lavoura (Onde "braços" substitui "homens" ou "trabalhadores").

4. Metáfora: é o mais expressivo elemento em que se apoia a linguagem figurada. Trata-se da principal figura semântica, da qual as outras figuras podem aproximar-se, ou confundir-se com ela. Consiste na transferência de um termo para uma esfera de significação que não é a sua, em virtude de uma comparação implícita. Em outras palavras, é o deslocamento de um termo, ou de uma expressão, de sua área de significado normal para outra, processo de que resulta a produção de um efeito estético em que se faz presente o binômio denotação/conotação:
Perdi a chave do apartamento. [sentido denotativo]
Percebemos, enfim, a chave do problema. [sentido conotativo ou metafórico]
"No dia seguinte, acordamos debaixo de um temporal [...]. Enfim a tempestade amainou. Confesso que foi uma diversão excelente à tempestade do meu coração." (Machado de Assis)

A metáfora pode ser caracterizada ainda pelas seguintes figuras:

4.1. Catacrese: é a metáfora mais comum, estereotipada, que resulta da ausência de um termo próprio para designar determinada coisa: pernas da mesa, cabeça de alfinete etc.

4.2. Personificação (ou animismo): atribuição a seres inanimados de ações, qualidades ou sentimentos próprios do homem:
"[...] o sol, no poente, abre tapeçarias..." (Cruz e Souza)

4.3. Hipérbole: figura do exagero; tem por fundamento a paixão, que leva o escritor ou o falante a deformar a realidade, glorificando-a ou amesquinhando-a segundo seu modo particular de sentir:
"Eu, somente eu, com a minha dor enorme,
Os olhos ensanguento na vigília!"
(Augusto dos Anjos)

4.4. Símbolo: é a metáfora que ocorre quando o nome de um ser ou coisa concreta assume valor convencional, abstrato:
Ele hesita entre a cruz [o cristianismo ou as virtudes cristãs] e os prazeres da vida.

4.5. Sinestesia: interpenetração de planos sensoriais. Fundem-se sensações visuais com auditivas, gustativas, olfativas, tácteis, num amálgama de efeitos expressivos:
"Por uma única janela envidraçada, [...] entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras." (Clarice Lispector)

Fontes
Figuras de estilo, José Geraldo Pires-de-Mello, Editora Rideel/Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, 2ª edição, São Paulo, 2001.
Gramática normativa da língua portuguesa, Rocha Lima, José Olympio Editora, 34ª edição, 1997.

Análise e interpretação de textos


Para analisar e interpretar textos é preciso saber ler. Mas, como aprender a ler? Lendo. Alguém que deseje aprender a nadar terá de, inevitavelmente, entrar na água. O mesmo ocorre com a formação de um leitor: se ele não se dedicar ao exercício da leitura, debruçando-se sobre poemas, notícias e crônicas de jornal, romances, ensaios etc., jamais aprenderá a ler.

Mas a verdadeira leitura pressupõe compreensão. Não basta passar os olhos sobre as palavras, mas é preciso entender o significado delas - ou, pelo menos, aproximar-se do que o autor pretende transmitir. E, depois, para realmente analisar o objeto da nossa leitura, devemos proceder à identificação das características, dos atributos, das propriedades do texto.

Textos denotativos - um ensaio, uma dissertação, uma notícia ou reportagem - são escritos em linguagem conceitual. Esse tipo de texto - racional, que se apoia em conceitos, leis, princípios ou normas - pede do leitor uma postura objetiva.

Já os textos conotativos - a poesia e os gêneros de ficção, incluindo algumas crônicas - exigem de nós uma postura subjetiva, pois são escritos em linguagem poética. Ou seja, são textos que exploram aquele conjunto de alterações ou de ampliações que uma palavra pode agregar ao seu sentido literal (ou denotativo). Os meios para se alcançar esse tipo de expressão envolvem as diversas figuras de linguagem, a criação de personagens e uma infinidade de associações entre os vocábulos, criando, muitas vezes, um mundo à parte.

Para esses dois tipos de textos podemos estabelecer algumas regras gerais de leitura:

1. Cada novo texto é, também, um novo universo. Para apreender o que o autor pretende transmitir, devemos estar abertos ao novo. Então, antes de iniciar a leitura, procure esquecer o que lhe disseram sobre o autor - as críticas e os elogios -, e aproxime-se do texto sem preconceitos.

2. Se for um texto curto - artigo, notícia, crônica, conto, etc. -, leia-o integralmente, procurando captar o seu sentido geral, e só depois, reiniciando a leitura, proceda assim: a) procure, no dicionário, cada uma das palavras desconhecidas ou cujo sentido lhe pareça estranho, duvidoso. b) sublinhe ou circule, em cada parágrafo, a frase que expressa a ideia central daquele trecho. c) faça anotações nas margens do texto, mas de maneira que elas expressem o seu pensamento, as suas interrogações, as suas concordâncias ou discordâncias, relacionando o texto às suas vivências pessoais e a outras leituras que você, porventura, tenha feito.

3. Se o texto for longo - romance, ensaio, tese, peça de teatro etc. - siga os passos acima, mas desde o primeiro momento da leitura.

4. Não tenha preguiça. A leitura exige, muitas vezes, que voltemos ao início do texto ou do capítulo, que retrocedamos alguns parágrafos, a fim de retomar certa ideia ou rever o comportamento, a fala de uma personagem.

5. À medida que você decodifica as palavras, procure relacioná-las com o todo. Ou seja, compreenda as palavras dentro do contexto (o conjunto de frases, o encadeamento do discurso).

6. Enquanto lê, estabeleça um duplo diálogo: com o autor e com você mesmo.

7. Quando o texto usar a linguagem conceitual, não faça uma leitura tímida: imagine-se concordando e, também, discordando das ideias expostas. Coloque-se no papel de defensor e de opositor. Depois, forme seu próprio julgamento.

8. Quando o texto utilizar a linguagem poética, imagine a cena, coloque-se no lugar das personagens. Muitas vezes, poemas e textos de ficção tratam de realidades completamente diferentes da nossa, o que exige uma leitura sem preconceitos. Não tenha receio: entre os gregos, transforme-se em grego.

9. Não seja um leitor crédulo, não acredite com facilidade em tudo que lê. Num texto conceitual, seja implacável com a argumentação do autor: ele realmente convenceu você? Quais as partes frágeis do texto? Quais as qualidades? Aja da mesma forma em relação ao texto poético: o enredo convenceu você? A história é verossímil (transmite a impressão de verdade) ou imperfeita, defeituosa? O bom leitor nunca é ingênuo.

10. Numa prova, não se esqueça: a) leia o texto com calma, duas ou três vezes; b) a cada questão, retorne ao texto e esclareça suas dúvidas; c) esteja atento ao enunciado da questão, pois, muitas vezes, ele exigirá que você leia não só o trecho citado, mas um ou mais parágrafos. d) muitas vezes, a resposta correta não corresponde exatamente ao que está no texto, mas apenas se aproxima do sentido geral.